Falar sobre morte é um tabu para muitas pessoas e as crianças se incluem neste cenário.

Perder alguém querido é muito triste e doloroso e se não comunicado da maneira correta a uma criança, isso pode ser traumático. Com medo de causar traumas, muitos adultos acabam criando histórias aos pequenos e ocultando a verdade, mas a psicóloga Isabela Hispagnol, especialista em luto e cofundadora do site One Life Alive, aconselha que uma pessoa que tenha bastante intimidade e confiança com a criança conte a verdade de forma simples e honesta.

Quando um ente querido está muito doente, por exemplo, é aconselhável já informar à criança sobre o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer. Tudo de forma clara e sem criar histórias. Conversar é ótimo, pois faz com que a criança se abra e compartilhe seus sentimentos e inseguranças.

O primeiro passo deve acontecer antes mesmo que a morte “apareça” na vida da criança. É importante conversar com ela sobre o que ela entende, pensa e imagina sobre morte e morrer e responder a todas as dúvidas que ela tenha sobre o assunto. Fale de maneira simples e objetiva e explique que é algo natural da vida e que todos vamos passar por isso.

RESPEITE A IDADE DA CRIANÇA

Além de conversar com os pequenos, é importante ter um senso de interpretação de acordo com a idade das crianças. A seguir separamos como cada criança se comporta com o luto, de modo geral, em cada faixa etária.

Menores de 2 anos

Elas ainda não compreendem a morte, mas já reagem à separação de pessoas importantes para elas. Conversar com a criança, explicar que aquela pessoa não está mais lá e acolhê-la, com paciência, é importante. “Nestes momentos, é importante evitar abordagens muito lúdicas, pois isso não permite a compreensão da criança em relação ao verdadeiro significado da morte, e pode gerar medos, ansiedades e outros questionamentos irrealistas”, diz Mariana Zanotto, assessora familiar e especialista em cuidados infantis.

Crianças de 2 a 5 anos

Mesmo as crianças que são um pouco maiores, ainda não compreendem metáforas sobre a morte. Por isso, frases como: fulano “foi embora” ou “dormiu”, podem deixá-las confusas sem saber ao certo o que, de fato, aconteceu. “Conte que a pessoa morreu, explicando o que aconteceu e por quê. Responda também o que a criança perguntar”, aconselha Isabela.

Nada impede que você diga, de acordo com suas crenças, o que acontece com a pessoa quando ela morre. Mas é essencial garantir que a criança entenda que aquela pessoa não estará mais fisicamente presente. Dizer que você também se sente triste e tem saudades ajuda a acolher os sentimentos da criança.

Pode ser que, em um primeiro momento, a criança não entenda o que significa morrer. Por isso, cabe ao adulto de confiança repetir várias vezes a mesma história. Também vale assegurar que a criança não se sinta culpada pelo que acontece. Ao perder alguém que era sua referência de vida ela precisa se sentir amada, segura e acolhida.

Crianças de 6 a 9 anos

Mais do que saber que a pessoa morreu e que não estará mais fisicamente presente, crianças dessa idade podem precisar de explicações mais detalhadas sobre o que aconteceu. É importante que essas questões sejam respondidas com informações verdadeiras.

Podem surgir questionamentos do tipo: a pessoa agora vai ficar sozinha? Ela vai sentir frio ou fome? Explique que o corpo de quem morre não é igual ao de quem está vivo, pois ao morrer não se sente mais nada. “Vale também aceitar e acolher sentimentos de raiva, tristeza e medo, mantendo a comunicação aberta, de forma que a criança se sinta valorizada e incluída”, diz Isabela.

LEVAR OU NÃO AO FUNERAL?

Essa costuma ser uma dúvida frequente. Isabela Hispagnol diz que é importante conversar com a criança e explicar o que é um funeral, dizer que a pessoa vai estar numa caixa diferente, deitada e imóvel e que ele acontece em um lugar específico para que as pessoas se despeçam, que lá pode haver orações, as pessoas podem relembrar fatos importantes sobre a pessoa que morreu, que pode haver também pessoas chorando.

“Rituais como o funeral simbolizam fechamentos de ciclos, sendo importantes para o processo do luto. Porém, se a criança não quer participar desse tipo de processo, é fundamental que ela escolha outro tipo de despedida”, comenta Isabela.

A especialista em luto acrescenta que mais importante que dizer se os familiares devem ou não levar a criança ao funeral é reforçar que o desejo dela deve ser respeitado. “Dê à criança a chance de se despedir como quiser. Ela pode, inclusive, fazer um desenho ou mandar um objeto para o funeral, caso não queira ir”, diz a especialista.

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